quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As Loucuras de um Velho Mágico


Na minha infância eu morava embaixo da ponte, tinha fugido do orfanato. Lá eu aprendi tudo o que eu sei de mágica. Nas ruas eu fui aperfeiçoando meus truques, me apresentando dentro do metrô. Era assim que tirava dinheiro para comer. Porém, quando me tornei adulto, conheci o senhor Pinguço, dono de um circo, ele me ofereceu um emprego.

Às vezes, quando eu  estava me apresentando normalmente, algo de inesperado acontecia: o meu melhor truque havia falhado.  Alguma coisa estava errada.  Pensei que minha carreira estava chegando ao fim.
Havia, porém, os momentos em que as coisas aconteciam. Eu fazia um rinoceronte ficar no ar, deixava-o invisível e o transformava-o em uma galinha, as pessoas ficavam perplexas, todos de olhos arregalados. Depois dos meus shows, eu sempre queimava um “cachimbo da paz”, para relaxar e ficar na paz, e esquecer meus problemas que estava enfrentando com a velhice.

Numa das vezes que estava voltando para casa com minha bike, desci uma lomba de chão batido, o freio não funcionava. Subitamente,  aparece um caminhão na minha frente, naquele momento eu pensei que seria meu fim, mas veio em minha mente uma ideia. Me transformei em um anão para passar de baixo do caminhão.  Depois fiz um truque que revolucionaria a mágica. Tirei o coelho da cartola, e ele fugiu para cima de uma grande árvore da minha fazenda (Com o dinheiro que eu ganhei, eu comprei uma fazenda, na qual plantava meus alimentos, inclusive a “plantinha da paz”, também cuidava dos animais que utilizava nos shows), fui atrás e subi na árvore. Distraí-me e caí. Na queda perdi um dedo, por segundos pisquei, e meu dedo voltou. Depois disso tudo, joguei-me no rio que passava atrás de casa, vi sereias lindas, fiquei encantado por minutos, acordei e já estava tomando banho.

O tempo passou como uma tempestade passa e as folhas das árvores ficam espalhadas no chão trazendo lembranças passadas.  E chegou o dia em que fiquei muito triste e desamparado no mundo, pois meu único amigo faleceu, o seu Pinguço. Fiquei sozinho e de dono do circo, como estava velho, não dei conta de tudo e botei fogo no circo, e lá se ia mais uma coisa da minha vida.
Hoje não faço mais mágica, estou apenas vendo a paisagem sentado na frente de casa, olhando tudo passar bem na minha frente: árvores coloridas, folhas vermelhas, flores, campos, rios, lindas paisagens.  Eu e meu “cachimbinho da paz”.


Conto Inspirado no "Ex-mágico da Taberna Minhota, de Murilo Rubião"


Paulo  Voigt e Bruna Leticia

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