Na minha infância eu morava embaixo da ponte, tinha fugido
do orfanato. Lá eu aprendi tudo o que eu sei de mágica. Nas ruas eu fui aperfeiçoando meus truques, me apresentando
dentro do metrô. Era assim que tirava dinheiro para comer. Porém, quando me
tornei adulto, conheci o senhor Pinguço, dono de um circo, ele me ofereceu um
emprego.
Às vezes, quando eu estava me apresentando normalmente, algo de
inesperado acontecia: o meu melhor truque havia falhado. Alguma coisa estava errada. Pensei que minha carreira estava chegando ao
fim.
Havia, porém, os momentos em que as coisas aconteciam. Eu
fazia um rinoceronte ficar no ar, deixava-o invisível e o transformava-o em uma
galinha, as pessoas ficavam perplexas, todos de olhos arregalados. Depois dos
meus shows, eu sempre queimava um “cachimbo da paz”, para relaxar e ficar na
paz, e esquecer meus problemas que estava enfrentando com a velhice.
Numa das vezes que estava voltando para casa com minha bike,
desci uma lomba de chão batido, o freio não funcionava. Subitamente, aparece um caminhão na minha frente, naquele
momento eu pensei que seria meu fim, mas veio em minha mente uma ideia. Me
transformei em um anão para passar de baixo do caminhão. Depois fiz um truque que revolucionaria a
mágica. Tirei o coelho da cartola, e ele fugiu para cima de uma grande árvore
da minha fazenda (Com o dinheiro que eu ganhei, eu comprei uma fazenda, na qual
plantava meus alimentos, inclusive a “plantinha da paz”, também cuidava dos animais
que utilizava nos shows), fui atrás e subi na árvore. Distraí-me e caí. Na
queda perdi um dedo, por segundos pisquei, e meu dedo voltou. Depois disso
tudo, joguei-me no rio que passava atrás de casa, vi sereias lindas, fiquei
encantado por minutos, acordei e já estava tomando banho.
O tempo passou como uma tempestade passa e as folhas das
árvores ficam espalhadas no chão trazendo lembranças passadas. E chegou o dia em que fiquei muito triste e
desamparado no mundo, pois meu único amigo faleceu, o seu Pinguço. Fiquei
sozinho e de dono do circo, como estava velho, não dei conta de tudo e botei
fogo no circo, e lá se ia mais uma coisa da minha vida.
Hoje não faço mais mágica, estou apenas vendo a paisagem sentado na frente de casa, olhando tudo passar bem na
minha frente: árvores coloridas, folhas vermelhas, flores, campos, rios, lindas
paisagens. Eu e meu “cachimbinho da
paz”.
Conto Inspirado no "Ex-mágico da Taberna Minhota, de Murilo Rubião"
Paulo Voigt e Bruna
Leticia
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