Com cheiro repugnante no ar, em torno de uma
lareira, Samael analisou a cena. Sem saber o como ou porquê. Suas roupas
rasgadas e as mãos sujas de sangue o único pensamento era: Será que devo ser
salvo? Ele recorda alguns feitos e tenta achar alguma solução.
Anos atrás antes dos apagões de memória, Samael
praticava magia, com tamanha habilidade. Trazia flores de dentro de copos
d’agua, uma cobra que retirava da garganta e brincos de rubis que surgiam entre
os dedos energeticamente para sua esposa Sophia. Que sempre acompanhara suas
apresentações no centro da vila, onde o povaréu ia vê-lo, o feiticeiro sacava
uma escada de dentro de um livro de bolso. Sempre amou a prática de magia,
trabalhou com Bartolomeu, renomado em magia na época, que lhe ensinou algumas
táticas para prender a atenção do público.
Levava consigo um pequeno livro de bolso, feito
de papiro, o que dissolvia as letras ao jogar na água. Retirava símbolos como
estrelas, primas e círculos. Ele os desenhava no cão do palco, recitava frases
em latim, tocava na escrita e um unicórnio aparecia com chifres e tudo. Outrora
tirava macacos voadores e dragões para agradar a criançada coelhinhos e
gatinhos fofinhos.
Contudo algo horrível deixou a mente do mago
perplexa. Depois de mais uma das apresentações, surgiu em sua casa soldados do
rei, sacando suas espadas e o acusando de bruxaria. Gritaram e praguejaram
invadindo a casa de Samael. O que não esperavam é que o mago não estava em
casa, apenas sua esposa Sophia. Os soldados como vingança arrastaram Sophia
pelos cabelos até o centro da vila, ao mesmo lugar onde as apresentações eram
feitas. Chorando, ela implorou pela sua vida, mas os soldados cheios de ódio e
ganância a espancaram na frente de todos que saíram de suas casas ao ouvir os
gritos da mulher do mago. O mago retornava para casa e, ao ouvir os gritos de
sua mulher, pegou o seu livro e escreveu nele energia que fluía em suas mãos.
Com ela, se concentrou e a absorveu. Com uma rapidez sobre-humana disparou,
emergindo da floresta e caindo entre os soldados e o rei, que lhe cravou uma
espada no ombro. Ele estava machucado. Os soldados o amarraram em um poste de
madeira, deixando-o ver toda aquelas cenas que o trariam ódio.
Sem poder fazer nada, impotente perante aqueles
homens que espancavam sua esposa, ele apenas pode assistir. Um dos soldados,
podemos dizer, o mais cruel de todos, sacou da sua cintura uma faca, cortou a
garganta da indefesa mulher, deixando-a esticada ao chão. O mago tomado de ódio
esbravejou aos céus, só pensava na morte daqueles homens. Porém, com o ódio
tomando o seu ser, no seu olhar explodiu chamas, que destruiu toda a vila.
Agora, o mago livre, com uma raiva tão grande
que o que antes era uma aura pulsante passou a ser chamas de ódio, seus olhos
se transformaram em chamas, vermelhas de fúria.
Só pensava em resgatar o corpo da sua amada
esposa, não hesitou ou sequer pensou duas vezes, quebrou o código dos magos e
praticou magia negra. Avançou contra os soldados, arrancou um por um o coração
dos inimigos. Com o coração dos soldados decidiu praticar um ritual para trazer
sua amada esposa de volta à vida. Já passava das 2h00 da manhã e o ritual
estava pronto. As feridas de sua mulher haviam saradas, ela estava de volta,
mas não estava como antes, ela se mostrou demoníaca.
Ele
sofrendo de insanidade, tentou se livrar do demônio que sua mulher tornara-se,
mas não conseguiu. Sem acreditar no que havia transformando sua mulher, só viu
uma solução, por fim a sua vida sacou um calibre 38 e colocando em sua boca
disparou.
A
esposa-demônio riu da situação, pois sabia que a vida do mago nunca teria fim.
O mago só constatou isso depois das inúmeras tentativas de se matar frustrada.
Samael que só queria trazer sua amada esposa de volta, deu vida a um monstro.
Samael refletiu por
um instante, o mago ainda tinha chamas em seu corpo que dançavam de um lado
para o outro.
- Não faz sentido,
continuar. Há mais de 600 anos a conheci e lhe dei tudo, consegui expandir a
minha longevidade e também a dela, por
meio de rituais inofensivos aos humanos.
Ele
olhou o rosto da mulher possuído e decidiu dar fim a sua existência. Ele
concordou com o ser que mantinha o corpo de sua mulher. Ela sacou a faca, com
que o soldado a havia matado e cravou no coração do mago. Ali olhando para as
para as mãos cheias de sangue ele morreu.
- Será que vou ser
perdoado, foram as últimas palavras do mago.
O demônio seguiu livre até que algo o chamou a
atenção: o que a mantinha nesse plano era o amor do mago, e o seu poder. Com a
morte do mago a energia foi dissipada e o demônio foi destruído, mas restava
uma pequena alma na moça. Após o monstro ser mandado para o inferno ela abriu
os olhos e saltou do chão em um espanto. Vendo o massacre ela se viu forçada a
deixar o vilarejo, buscando formas de trazer das traves seu marido.
Inspirado no conto "O Ex-Mágico da Taberna Minhota", de Murilo Rubião
Felipe Moraes e
Luana Külzer
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